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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Caso “Quintela”


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Por Antonio Cavalcante Filho e Vilson Nery*
Vejam vocês, como o mundo dá voltas e as coisas acabam se repetindo, mesmo na exata medida de uma farsa histórica, talvez porque nada tenha mudado, ou tudo continua como d'antes, o estado das coisas ainda é o mesmo.
Sei que a introdução do texto opinativo se parece com um “cerca lorenço” (conversa fiada, enrolação), mas não é.
Aproveito para dizer que é injusto defender que a expressão “cerca lorenço” seja sinônimo de enrolação. Na verdade o beato José Lourenço Gomes da Silva, que viveu na região de Crato (Ceará) até meados do século passado, criou naquela região algumas fazendas comunitárias, uma espécie de Arraial de Canudos (sim, havia educação política). Os sertanejos ali viviam em harmonia e cultivavam seus alimentos em comunidade, tudo sob as bênçãos do Padre Cícero (que depois - dizem as ferinas línguas– lhes virou as costas).
Mas a experiência comunista (viver e plantar em comunidade) incomodou figuras do alto clero e políticos do governo, e o mandatário ordenou a polícia para que “cercasse” uma das “fazendas de Lorenço”. É daí a expressão alcunhada.
O destino de Lorenço é o resultado do cerco? Quem pode dizer com certeza?
Explicado o erro histórico de interpretação de um fato e uma expressão lingüística, vamos a outro equívoco de visão histórica, atinente a acontecimento registrado bem perto de nós, aqui em Mato Grosso.
Nos anos 80, houve duas grandes fraudes eleitorais em nosso Estado, conforme amplamente denunciadas, uma delas se referindo à eleição ao Governo do Estado e outra tratando-se da escolha de um novo prefeito em Várzea Grande. A eleição foi “casada”, prefeito e governador.
Deste caso último restou um cadáver: Celso Quintela, então candidato derrotado na eleição para prefeito, que – como advogado que era – reunia provas de delitos perpetrados por poderosos com o fito de vencer a eleição. Pretendia prisões e novas eleições.
Minutos após serem informados da execução de Celso Quintela, numa estrada escura e empoeirada nas proximidades de onde hoje se encontra instalado o Frigorífico Sadia (em Várzea Grande), o subscritor Antonio Cavalcante Filho e o saudoso Gilson de Barros (ex deputado federal) chegam ao local do crime e certificam-se do grosso calibre das armas utilizadas contra Quintela, em vistas das cápsulas deflagradas.
Mesmo Gilson de Barros, um expert em armas de fogo  espantou-se com a quantidade de projéteis disparados para a consecução do delito, e expressou-se com aquele vozeirão que lhe era típico.
O fato é que o juiz eleitoral da época, e que conduzira aquela eleição municipal (1982), achou tudo normal e não sentenciou nenhum acusado de crime eleitoral, entendendo que havia “normalidade democrática”. Passados 30 anos, esse mesmo magistrado desonra a toga e é afastado da magistratura sob acusação de ter cometido “mal feitos”. Sua condenação veio do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e confirmada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Mas, o caso Quintela reclamava mais atenção da sociedade mato-grossense e do Estado, pelo alto índice de figuras públicas envolvidas (alguns com foro privilegiado). Então o Tribunal de Justiça, em 1982, designa um juiz de seus quadros para acompanhar o caso. Este a tudo vê e depois relata ao chefe (Presidente do TJ) que havia “perfeição e normalidade democráticas” e uma reação típica de perdedores. Esse mesmo magistrado, ainda que do além túmulo, veria um seu rebento, 30 anos depois, ser enxotado da magistratura por decisão do CNJ e do STF. Era o “Escândalo Corolas” combinado com o “Escândalo da Maçonaria”, nacionalmente conhecido.
E os executores do homicídio de Quintela?
Ora, uns 20 anos depois do crime foram absolvidos graças à brilhante defesa de um jovem defensor público. Este causídico, neste ano de 2012, foi afastado da chefia da instituição de defesa dos pobres e “sem dinheiro pra pagar advogado” (Defensoria Pública) sob sérias acusações de má gestão e denunciado judicialmente pelo Ministério Público Estadual.
Qual a lição que vem de tudo isso?
Ora, porque as pessoas não trataram da doença (corrupção) e dos germes/vermes causadores do mal (servidores públicos corruptos) há trinta anos atrás, pelo menos duas gerações de mato-grossenses sofreram os danosos efeitos.
E o que isso significa?
Que se você se omitir e não combater a corrupção e os corruptos agora (hoje, neste momento), os seus filhos e os filhos deles (seus netos) irão sofrer, e muito! Você acha que essa criaturinha que está em seu colo, carente de afeto e amor, reclamando a mamadeira e balbuciando as primeiras palavras, merece isto (sua omissão)?
*Antonio Cavalcante Filho e Vilson Nery são ativistas do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral

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